Zika: Agência dos EUA aconselha casais esperando bebês a usar camisinha ou se abster de sexo

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O Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês) afirmou nesta sexta-feira que a transmissão sexual do zika vírus é possível e divulgou novas recomendações para homens e mulheres.

“A transmissão sexual do zika é possível, e é uma preocupação principalmente durante a gravidez”, afirma o boletim, que sugere a casais que estejam esperando um bebê a usar camisinha ou não fazer sexo durante toda a gravidez.

“Homens que moram ou que tenham viajado para uma área onde a transmissão do zika seja ativa e que tenham uma parceira grávida devem se abster de atividades sexuais ou usar a camisinha de maneira consistente e correta durante o sexo (oral, vaginal ou anal) por todo o período da gravidez”, diz o informe.

“Mulheres grávidas devem informar seus médicos ou profissionais de saúde sobre potenciais exposições ao mosquito de seus parceiros e sobre o histórico deles de doenças com sintomas semelhantes aos do zika.”

O CDC também afirmou que homens que não estejam se relacionando com mulheres grávidas, mas vivam ou tenham passado pelas áreas de risco e estejam preocupados com transmissão sexual, também devem considerar abstinência ou usar preservativo. E disse ainda que, “após a infecção, o zika vírus permanece no sêmen quando já não é mais detectado no sangue”.

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OMS admite que ainda pouco se sabe sobre outras formas de transmissão do zika vírus

Casos suspeitos

Segundo o CDC, as informações sobre a possível transmissão sexual do zika vírus são baseadas em informações de três casos que intrigam os pesquisadores.

O caso mais recente ocorreu no Estado do Texas. Em entrevista à BBC, a vice-diretora do CDC, Anne Schuchat, disse que “o laboratório confirmou o primeiro caso de zika vírus em um não viajante. Nós não acreditamos que o contágio tenha ocorrido por meio de picadas de mosquito, mas sim por contato sexual”.

Questionada sobre a confirmação, Schuchat explicou que, até o momento, não há outras formas plausíveis que possam dar conta da transmissão, já que uma pessoa esteve na Venezuela, voltou aos EUA, apresentou sintomas de zika e teve contato sexual com o parceiro, que acabou infectado.

O caso no Texas soma-se a outros dois que, embora não comprovados, são amplamente citados na literatura científica. Em um deles, o vírus foi detectado no sêmen de um paciente e, no outro, um cientista que havia estado em uma área de contaminação por zika teria infectado sua mulher ao voltar aos EUA.

Em 2013, durante um surto de zika na Polinésia Francesa, o vírus foi detectado no sêmen de um homem de 44 anos. Ele havia apresentado sintomas típicos da infecção: febre, dores de cabeça e nas articulações. Após alguns dias, o paciente notou vestígios de sangue no sêmen e procurou atendimento médico. Exames detectaram o vírus no material coletado.

Neste caso, não houve a comprovação de infecção de uma segunda pessoa pela via sexual, mas sim da contaminação do sêmen pelo chamado vírus replicante, ou seja, capaz de gerar a propagação da doença.

“Nossas descobertas apoiam a hipótese de que o zika pode ser transmitido por via sexual”, conclui artigo disponível no site do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).

No segundo caso de possível contaminação sexual, o sêmen do paciente com zika não foi examinado. No entanto, a mulher dele teve o diagnóstico de zika e a única explicação plausível seria o contágio sexual.

Foi o caso do cientista americano Brian Foy, em 2008. Ele havia visitado uma região do Senegal afetada por zika e, ao retornar para casa, no Colorado, Estados Unidos, teria infectado a mulher durante uma relação sexual um dia após seu retorno.

“Vivemos no Colorado, um Estado americano onde não há mosquitos na época do ano em que minha mulher contraiu o vírus. E onde não há ocorrência do Aedes aegypti (o mosquito transmissor do vírus). O mais provável é que minha mulher tenha sido infectada quanto tivemos relações, antes de eu me sentir doente, mas a ciência ainda não está nem perto de provar a possibilidade desse tipo de contágio”, contou Foy à BBC Brasil.

(Foto: Brian Foy)Image copyrightBrian Foy
O cientista Brian Foy contraiu zika durante visita a Senegal, em 2008

O professor-assistente da Universidade Estadual do Colorado é um dos autores de um estudo que sugere a possibilidade de transmissão do zika por contato sexual. Inicialmente, Foy foi diagnosticado com dengue e médicos não conseguiram descobrir o que tinha se passado com sua esposa. Passou-se um ano até que eles descobrissem que se tratava de zika.

O americano diz acreditar que a repercussão causada pela epidemia no Brasil incentive o financiamento de pesquisas buscando investigar o assunto. Foy afirma não haver dúvidas de que a picada do Aedes aegypti é a forma principal pela qual se pode contrair o vírus, mas defende a importância de que ao menos se descubra mais sobre a via sexual.

“Para atingir uma área de contágio tão extensa de forma tão rápida, o mosquito é a grande explicação. Pode ser até que o contágio sexual represente uma ocorrência rara e, diante dos problemas enfrentados pelas autoridades de saúde dos países afetados, como o Brasil, não esteja no alto da lista de prioridades. Como cientista, porém, sempre acredito na importância de se investigar outras possibilidades”, completa.

Em uma entrevista a uma rede de TV americana, Foy relatou ter sido constantemente picado por mosquitos enquanto fazia seu trabalho de campo no vilarejo senegalês de Bandafassi. Voltou para os EUA no final de agosto de 2008 e, dias depois, começou a se sentir mal, com sintomas que variavam de fadiga a dores no momento de urinar, além de inflamações na pele – a esposa teria notado o que parecia ser sangue no sêmen do marido.

Foy pediu ajuda a colegas do CDC, a principal agência voltada para a proteção da saúde pública dos EUA, para identificar a patologia com que tinha sido infectado. O diagnóstico de dengue não o deixou convencido, e muito menos a indefinição sobre o que teria acontecido com a mulher.

(Foto: Thinkstock)Image copyrightthinkstock
Recomendação é que grávidas usem preservativo nas relações sexuais

Um ano depois, um dos auxiliares do cientista na viagem à África, Kevin Kobylinski, que também ficou doente, estava conversando em um jantar com o entomologista Andrew Haddon, da Universidade do Texas, quando tocou no assunto.

Haddow, por uma grande ironia do destino, é neto de Alexander Haddow, um dos três cientistas que isolaram o zika pela primeira vez, em 1947, quando o extraíram de um macaco na Floresta de Zika, em Uganda. Quando soube que amostras de sangue de Kobylinski e dos Foy ainda estavam preservadas em um laboratório, o entomologista sugeriu que elas fossem enviadas para o virologista Robert Tesh. As três amostras testaram positivo para zika.

Em seu estudo, Foy apresenta outros argumentos para defender a hipótese de contato sexual. Joy, sua mulher, jamais visitou a África ou a Ásia e, na época da publicação do documento, já fazia quatro anos que não deixava os EUA. Antes da epidemia no Brasil e que começa a chegar a outros países da América do Sul, o zika jamais tinha sido reportado no hemisfério Ocidental.

Outros estudos envolvendo doenças transmissíveis por mosquitos há haviam sugerido a possibilidade de contágio sexual. Haddow, por exemplo, aponta para o fato de que a epidemia de zika na Micronésia (Oceania), em 2007, deu margem para especulações sobre este tipo de contágio.

Isso porque a proporção de mulheres infectadas foi 50% maior que a de homens – na maioria das doenças sexualmente transmissíveis, o sexo vaginal oferece riscos de contágio muito maior para as mulheres.

“É a explicação mais lógica. Outra possibilidade é que tivesse sido passado pela saliva ou outros fluidos corporais, mas temos quatro filhos, e eles não ficaram doentes.

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