Investidores temem que a estratégia econômica do ex-presidente envolva uma contração deliberada para pressionar o Fed e impulsionar sua agenda
Os mercados globais estão derretendo, e Wall Street não via um banho de sangue tão intenso desde 2022. Ações americanas, especialmente do setor de tecnologia, sofreram quedas abruptas, com a Tesla despencando mais de 15%. O índice S&P 500 chegou a cair mais de 3%, enquanto o Nasdaq 100 recuou quase 5% em seu pior momento do pregão. O ouro e o Bitcoin também acompanharam o movimento negativo. Mas o que está por trás dessa onda de pessimismo?
Nos últimos dias, declarações vindas de Donald Trump e membros de seu governo, como os secretários do Tesouro e do Comércio, aumentaram a incerteza. Sem descartar a possibilidade de uma recessão, o discurso oficial sugere que os Estados Unidos passarão por um período de “transição”, o que o mercado interpretou como um possível arrocho econômico proposital. O motivo? Pressionar o Federal Reserve a cortar juros e aliviar o peso de uma dívida pública que já ultrapassa US$ 36 trilhões.
Trump já demonstrou que vê tarifas comerciais como uma ferramenta estratégica, mas sua abordagem imprevisível gera apreensão. A política protecionista, que teoricamente visa reindustrializar a América, tem o efeito colateral de elevar os custos para consumidores e empresas. O secretário do Tesouro, Scott Bent, inflamou o debate ao afirmar que “o acesso a produtos baratos não é a essência do sonho americano”, sugerindo que o governo está disposto a pagar o preço de uma inflação transitória em troca de uma economia mais autossuficiente.
Outro fator de peso é o vencimento de aproximadamente US$ 9 trilhões da dívida pública americana ao longo de 2025, um reflexo das escolhas da gestão Biden, que priorizou títulos de curto prazo para financiamento estatal. Com os juros ainda elevados, o governo enfrenta um desafio monumental para rolar essa dívida sem comprometer ainda mais o orçamento público.
Diante desse cenário, cresce a especulação de que uma recessão calculada poderia ser uma peça-chave na estratégia de Trump. Ao provocar um esfriamento econômico, ele poderia forçar o Federal Reserve a reduzir os juros, aliviando a carga da dívida e fortalecendo sua narrativa política. No entanto, a ambiguidade dessa estratégia tem um preço: a confiança dos investidores está sendo colocada à prova, e o mercado pode continuar reagindo com volatilidade extrema.
O que parece certo é que a incerteza veio para ficar. O modelo econômico de Trump, baseado na confrontação comercial e no uso das tarifas como ferramenta de barganha, pode ter seus méritos, mas a execução confusa e contraditória gera receios legítimos. Se essa recessão for intencional ou apenas uma consequência inevitável da política econômica, o tempo dirá. Até lá, os investidores seguem atentos e, por enquanto, com o dedo no botão de venda.