Logo que começamos a ingressar na seara cristã, isto é, nos convertemos ao Cristianismo, uma das lições e aprendizado que nos foram passadas, voltou-se acerca da Trindade Divina ou Trindade Santa: o Deus-Pai, o Deus-Filho e o Deus-Espírito Santo. A princípio, parece-nos simples a explicação sobre a existência de um Único Deus, mas que atua de uma forma tríplice, através de três pessoas ou três seres diferentes: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Sabemos que o Cristianismo se pauta por ser uma religião monoteísta, isto é, os seus seguidores acreditam na existência de um Único Deus e Senhor. Portanto, os Cristãos acreditam na existência de apenas um único Deus. Mas que; de forma totalmente contraditória, defendem o ponto de vista acerca da Trindade. Dito de outra forma; sobre a existência de “um só Deus”, mas que se apresenta e age, na forma de três seres diferentes: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Existem outras nações que apregoam o cristianismo e o defendem igualmente, como sendo monoteísta. No entanto, elas não possuem o mesmo pensamento, a mesma fé e a mesma crença acerca da Trindade Santa. Entre elas, podemos citar as religiões Judaica (o judaísmo) e a Islâmica (o Islamismo). Na teologia judaica, eles cultuam um único deus chamado Javé ou Jeová. Para o judaísmo, Deus é um ser onipresente, onipotente e onisciente, que criou e influencia todo o universo. E ele se comunica com o seu povo através dos profetas.
Na doutrina ou teologia islâmica, eles acreditam em Deus – Alláh; como sendo onipotente e onisciente criador, mantenedor, responsável e juiz do universo. Em outras palavras, Deus é único (wahid) e inerentemente Um (ahad), misericordioso e onipotente. De acordo com a tradição islâmica, há 99 nomes que são usados para a identificação de Deus. E de todos estes nomes referem-se a Alláh, como o nome supremo e de que tudo compreende. Entre todos esses nomes dados a Deus, os mais famosos e frequentemente usados por eles são: “o Compassivo” (al-rahman) e “o Misericordioso” (al-rahim).
O Islã ensina que Deus, como referenciado no Alcorão, é o único Deus (monoteísmo). O mesmo que é venerado por membros de outras religiões abraâmicas, tais como: o Cristianismo e o Judaísmo. Mas a final, qual o significado da palavra Trindade? De uma forma bem simples, podemos defini-la como sendo “a união de três pessoas divinas e distintas, num único Deus”. Ou, apenas, três Deuses. Vale lembrar que, para os Cristãos, estas três pessoas divinas e distintas, possuem os mesmos atributos e poderes, pois surgem de um único Deus.
Desenvolvimento
A pergunta que fizemos ao inseri-la como titulo deste artigo, persiste: A Trindade existe somente na esfera ou na área Cristã? Responderemos igualmente como o fez, o apóstolo Paulo em sua Epístolas: De maneira alguma. Ela existe em outras religiões ou noutras instituições de cunho religioso ou em sociedades espíritas. Ou, ainda, ela pode existir em outras nações e povos espalhados pelo mundo. Outra pergunta bem interessante para o momento é: E quem foi o criador da Trindade?
Registros históricos nos dão a ideia e a suposição (ou o posicionamento), de que partiu da doutrina que era ensinada pela Igreja Católica Apostólica Romana. Isto se deu, através do Concílio Eclesiástico que ocorreu na cidade de Niceia, em 325 d.C. Este foi o primeiro evento promovido pela igreja católica, para se discutir acerca da Fé Cristã. E a motivação para a criação deste encontro, partiu do Imperador Romano Constantino I, reunindo todos os representantes desta instituição religiosa, para ver se chegavam ao consenso acerca da natureza divina de Jesus Cristo.
Outros Concílios ocorreram no decorrer dos anos seguintes, inclusive houve outro nesta mesma cidade de Nicéia, pois outras regiões e cidades sob o domínio romano, defendiam e propagavam um pensamento e entendimento diferente a cerca da pessoa de Jesus Cristo. Só para efeito de conhecimento, algumas lideranças do império Bizantino, interpretavam de uma forma distinta os dogmas da igreja católica apostólica romana. Por exemplo, o sacerdote alexandrino Ário, questionou acerca da natureza divina de Jesus Cristo, haja vista de que ele a interpretava e ensinava em sua região, de que Jesus Cristo era uma criatura de origem divina e não como era propagado, isto é; de que Ele era a divindade em si (ou seja, por si só).
Este seu posicionamento, trouxe grandes debates e conflitos entre as demais lideranças eclesiásticas e dos seguidores do catolicismo. Mas, principalmente a do bispo Alexandre, da cidade de Alexandria. Por isso, houve a necessidade da convocação de outro Concílio para que se pudessem resolver esta e outras questões conflitantes.
Nota-se, que desde o primeiro evento de cunho religioso (em 325 d.C.), até os nossos dias, o mesmo tema sobre a natureza da pessoa de Jesus Cristo, vem sendo debatida entre as suas lideranças eclesiásticas e os seus seguidores. E esta discussão não está limitada somente no campo religioso, mas também é tema ou assunto, que surge em roda de amigos e em quaisquer ambientes sociais.
Nesta primeira parte do artigo, nos preocupamos em situá-los sobre a origem histórica acerca da Trindade Divina ou Trindade Santa, devidamente vinculada ao Cristianismo, ou seja, na Doutrina que foi apresentada ao mundo por Jesus Cristo. Mas, como instigamos aos leitores, será que esta forma de interpretação sobre o uso do termo trindade, está restrita somente a esta categoria ou classe de pessoas ou de religiosos? Em nossa resposta, dissemos que não. Então, vamos passar a conhecer sobre o seu emprego e uso por outras instituições?
- A Trindade na Umbanda: Analogicamente, podemos comparar a crença da umbanda à do cristianismo, isto é, ela tem a mesma forma tríplice de sua trindade santa, como sendo: Olorum, o Pai e criador de tudo, manifestando para o mundo a sua criação. Enquanto que Oxalá, o seu Filho, tem a responsabilidade por toda a criação da terra, dos seres humanos e o criador da morte. Ele é considerado a segunda pessoa da santíssima Trindade da Umbanda.
E, por fim, Ifá, o Santíssimo Mistério ou o Espírito Santo. Vale ressaltar de que Oxalá, entre todos os demais Orixás, é o Pai maior e o mais respeitado de todos. No sincretismo religioso, ele representa a figura de Jesus Cristo, ou o filho perfeito do Criador. Ele é responsável pela saúde física e mental, por isso é invocado nos momentos de enfermidade. Como também o é nos momentos de angústia e/ou impaciência. Por isso, se deve recorrer a Oxalá, pois ele tem poder e certamente vos atenderá.
- A Trindade no Espiritismo: A Doutrina Espírita refuta tal proposição com base na lógica que consagra o princípio de unicidade de Deus e na própria revelação do Novo Testamento, especialmente nas expressões atribuídas a Jesus Cristo, que se denomina como filho, servo e enviado de Deus (cf. João, 11:41-42). Ele revela que veio do Pai e prenuncia que a Ele voltaria, para sentar-se à direita de Deus (cf. Marcos, 14:60-63).
O espiritismo teve inicio no ano de 1857, na França, com a publicação do Livro dos Espíritos, que foi organizado por Allan Kardec, cujo nome verdadeiro é: Hipollyte Leon Denizard Rivail. Ele ficou conhecido por seu pseudônimo (para ocultar o nome verdadeiro). Ele defendia que se Jesus Cristo fosse Deus e Homem, ele teria do ser humano – o corpo; e do ser divino – o Espírito. Os kardecistas indagam: – Como entregar Deus aos cuidados de Deus?
Eles, os Kardecistas e outras correntes religiosas, se esqueceram de considerar que o Cristianismo nunca pregou ou defendeu, de que Jesus Cristo possuía somente o Corpo (humano), mas também o Espirito. Vale aqui registrar de que existem, no mínimo, duas correntes de seguidores de Cristo: – os dicotômicos: eles defendem de que somos feitos ou formados de corpo e espírito e; – os tricotômicos: diferentemente dos dicotômicos, acrescentam mais uma parte da formação ou feitura da criação humana: para eles, somos feitos de corpo, alma e Espírito.
Esta segunda corrente, apresenta como fundamento e defesa, entre outros textos bíblicos, o Evangelho de Mateus 3:
Mateus 3:13-17. Então veio Jesus (o Filho de Deus) da Galileia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele (o Espírito Santo). E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado (o próprio Deus e Pai).
Allan Kardec não acreditava em Deus, muito menos em sua Ortodoxia (doutrina). Para os espiritas, Deus é a inteligência Suprema. E o seu maior objetivo é a evolução e a ampliação de sua consciência (de sua inteligência). Segundo afirma Ellen G. White, em seu livro Os Resgatados: o Grande Conflito: “A crença de que os espíritos dos mortos voltam para ajudar os vivos, preparou o caminho para o espiritismo moderno. Se os mortos recebem conhecimento muito superior ao que tinham antes, por que não voltar à Terra e instruem os Vivos?”.
Continua a autora, ao dizer que: “Aqueles que foram para a sepultura despreparados, alegam falsamente estarem felizes e que ocupam altas posições no Céu. Supostos visitantes do mundo dos espíritos e, às vezes, dão advertências que se provam como corretas. E, ela acrescenta: “Se os espíritos dos mortos pairam sobre seus amigos na Terra, por que não se comunicam com eles? (…). Esse é um canal em que as pessoas imaginam ser sagrado, mas do qual Satanás se aproveita. Anjos caídos aparecem como mensageiros do mundo espiritual”.
E por falar na pessoa de Satanás, logo a seguir, apresentaremos outro uso e prática acerca da trindade, mas desta vez, denominada de “Trindade Satânica”.
- A Trindade no Candomblé: ela é constituída por: Obàtálá, Èsù e Òrúnmìlá. No plano filosófico, o provérbio Yorùbá é interpretado e entendido como sendo a garantia da estabilidade. Para que a pessoa (seu adepto ou seguidor) adquira esta estabilidade filosófica, o homem é ensinado pelo oráculo de Ifá a observar a retidão ética de Obàtálá, alegar o elemento imprevisível da vida representado por Èsù e confrontar os problemas com a sabedoria de Òrúnmìlá. Essa é a mensagem abstrata atrás dos mitos e legendas do papel da trindade recontada pelos versos de Ifá.
- A Trindade no Hinduísmo: a ideia de uma trindade de deuses a construir e governar o universo é bastante antiga. Essa idéia sustenta que o mundo é construído e sustentado por uma trindade de deuses chamados de Brhama, Vixenu e Shiva. Brhama é o deus da criação, Shiva é o deus da destruição, enquanto que Vixenu é o deus da preservação.
Na religião solar dos egípcios, essa trindade era composta por três seres estelares: Osíris, Ísis e Hórus, sendo que Osíris era representado pelo Sol. A deusa Ísis era representada pela Lua, enquanto que o filho deles, Hórus, era representado pelo universo com todas as suas manifestações. Mas é na tradição gnóstica dos neoplatônicos que a idéia da trindade iria ser trabalhada na sua forma espiritual mais elaborada.
- A Trindade Satânica: nesta doutrina ou grupo social e religioso, os seus seguidores e adeptos tem nas pessoas de: Satanás, o Anticristo e o Falso Profeta, como sendo a sua trindade. Devendo ser ressaltado de que Satanás seria o próprio Deus (o Divino). Ele, na verdade, tentou usurpar esta posição acerca da deidade do Deus-Pai, do Deus-Filho e do Deus-Espirito Santo, ou seja, da Trindade Divina. Ele queria e desejava ser adorado e servido, igualmente como os seguidores do Cristianismo adoram, exaltam e servem ao seu Deus e Senhor. Ele o fez por meio do uso da mentira e do fingimento acerca de si mesmo e do próprio Deus – YHWH (Javé ou Yahweh).
Gênesis 3:4-7. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.
Em resumo, Satanás queria se passar como sendo Deus. Em outras palavras, fingindo ser Deus. Não devemos esquecer que Deus é o arquiteto da salvação de todos aqueles que n’ELE creem: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens (…), eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (cf. Evangelho de João 10:9-10). Enquanto que Satanás é o arquiteto da destruição do mundo e de todos os seres humanos: “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir” (cf. Evangelho de João 10:10).
Vale ainda lembrar, de que ele: “Foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele” (cf. Apocalipse 12:9). O Anticristo, ou pseudocristo, segue a mesma linha de conduta de seu senhor, ou seja, finge ser o Messias Prometido e revelado por vários profetas do Antigo Testamento. Deve ser lembrado de que ele é a personificação ou a encarnação do mal. E a ele será dada autoridade e poder sobrenatural para destruir cristãos, vinda de seu líder, do próprio Satanás.
Apocalipse 13:4-6. E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses. E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu.
(…)
2 Tessalonicenses 2:3-4,9-12. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia (enfraquecimento da fé), e se manifeste o homem do pecado (do mal), o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. (…). A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem (rejeitaram a Deus, a Cristo e a Sua Doutrina). E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira (acreditem no Anticristo e no falso profeta); para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade (no fingimento e mentira de Satanás).
Por fim, o Falso Profeta que se apresentará como sendo o Espirito Santo, a terceira Pessoa da Trindade Divina. Dito com outras palavras, fingindo ser quem ele não é, e nunca e jamais será! Vale ressaltar que a este personagem, também será concedida autoridade e poder sobrenatural, que virá com uma vestimenta de cordeiro (aparência e gestos mansos), mas com a fala e as atitudes iguais a de um dragão (voraz e destruidor): “E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens” (cf. Apocalipse 13:11-13).
Não se esqueçam, de que todos estes deuses ou demônios, possuem poderes. Sendo assim, não se deve brincar, nem muito menos zombar. Se somos cristãos de verdade, devemos nos revestir das armas celestiais: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (cf. Carta aos Efésios 6:10-11).
Conclusão
Gostaríamos de finalizar este artigo, sem a pretensão de esgotar o assunto ou o tema, reforçando a fala ou a ideia que já registramos em linhas anteriores: outras civilizações, nações ou povos, por certo, devem fazer o uso e ter como prática o termo Trindade entre os seus componentes e rituais. O que estamos querendo dizer com isso, é que eles devem adorar e defender outra tríade “religiosa ou Satânica”, ou tríade de “deuses ou demônios”, ao qual atribuem os mesmos poderes e autoridade, em analogia a Trindade Santa ou Divina, que é defendida pelos Cristãos. Fica assim em aberto, esta nossa suspeição!!!
EDUARDO VERONESE DA SILVA
Professor, Palestrante e Bacharel em Direito
Pós-graduado em Direito Militar
Capitão da Reserva Remunerada da PMES
Pós-graduado em Dependência Química, Neurociência e Aprendizagem