A responsabilidade coletiva na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental.
Por Ivone Paradela
Setembro traz consigo uma campanha que, para muitos, pode parecer apenas mais uma entre tantas. Mas, como médica, sei que o Setembro Amarelo representa algo muito mais profundo e urgente. Esta campanha não se trata apenas de alertar sobre o suicídio, mas de fomentar uma cultura de cuidado com a saúde mental, um aspecto vital para o bem-estar individual e coletivo.
O suicídio é uma tragédia silenciosa que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 800 mil vidas são perdidas anualmente, superando o número de mortes causadas por guerras e homicídios combinados. No Brasil, são aproximadamente 12 mil suicídios por ano, com uma taxa crescente especialmente entre jovens de 15 a 29 anos. Como profissional de saúde, vejo esses números como um reflexo de uma sociedade que ainda não dá a devida atenção à saúde mental.
Em minha prática médica, muitas vezes me deparo com pacientes que, embora apresentem queixas físicas, na verdade sofrem de problemas que têm raízes emocionais e psicológicas. O estresse, a ansiedade, a depressão e outros transtornos mentais são frequentemente subdiagnosticados ou tratados de forma inadequada, o que pode levar a consequências trágicas. Como docente, tenho a oportunidade de orientar futuros profissionais de saúde sobre a importância de uma abordagem holística, que considera não apenas o corpo, mas também a mente e o espírito.
O Setembro Amarelo, instituído no Brasil em 2015, é uma iniciativa importante, mas que precisa ir além das campanhas de conscientização. É necessário um esforço contínuo para que a saúde mental seja priorizada em todas as esferas – desde as políticas públicas até o cuidado individual. Precisamos de mais investimentos em saúde mental, em formação de profissionais capacitados, e em políticas que assegurem o acesso ao tratamento para todos.
A prevenção do suicídio não é responsabilidade apenas dos profissionais de saúde. Ela é uma responsabilidade coletiva, que envolve desde o poder público até as comunidades e as famílias. É fundamental que todos nós, como sociedade, tenhamos a coragem de falar abertamente sobre o tema, sem estigmas ou preconceitos. A comunicação aberta, o apoio mútuo e a empatia são essenciais para criar um ambiente onde todos se sintam seguros para buscar ajuda.
Como médica, sei que a cura vai além dos remédios. Vai além das consultas. A verdadeira cura começa quando conseguimos ver o paciente em sua totalidade, compreendendo suas dores, seus medos e suas esperanças. O Setembro Amarelo nos lembra da importância de olharmos para o outro com compaixão e de oferecermos o suporte necessário para que cada pessoa possa encontrar um caminho para a vida.
Neste mês, que o amarelo seja mais do que uma cor ou um símbolo. Que seja um convite à ação, à conscientização e ao compromisso com a saúde mental. Como profissional da saúde, estou comprometida com essa causa, e acredito que, juntos, podemos fazer a diferença. A vida é preciosa, e a prevenção do suicídio começa com cada um de nós. Vamos transformar o Setembro Amarelo em um movimento de valorização da vida e de cuidado com o próximo.