Forças militares russas iniciaram nesta quinta-feira (24/2) uma ampla invasão da Ucrânia.
Há relatos de tropas cruzando diversos pontos da fronteira e explosões perto das principais cidades ao redor do país — e não apenas na região de Donbas, onde grupos separatistas foram reconhecidos e apoiados recentemente pela Rússia. Há ao menos sete mortos e 19 desaparecidos até agora, segundo autoridades ucranianas.
Em um pronunciamento televisionado, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que a Rússia não planeja ocupar a Ucrânia, mas alertou que a resposta será “imediata” contra qualquer um que tente parar a operação.
Putin instou os soldados ucranianos a se renderem e voltarem para casa — do contrário, a própria Ucrânia seria culpada pelo derramamento de sangue, disse o presidente russo. Ele acrescentou que o conflito entre as forças russas e ucranianas são “inevitáveis” e “apenas uma questão de tempo”.
Logo depois, unidades militares ucranianas foram atacadas. “Putin lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia”, afirmou o governo ucraniano.
A Ucrânia anunciou ter derrubado cinco aviões e um helicóptero da Rússia. Não há informações sobre mortos ou feridos. A Rússia nega essa informação.
A correspondente da BBC no Leste Europeu Sarah Rainsford informou que já é possível escutar sons de explosões na cidade de Kramatorsk. O jornalista da BBC Paul Adams também relatou explosões na capital, Kiev.
Segundo Adams, da BBC, os ataques parecem vir de diversas direções, incluindo Belarus ao norte da Ucrânia e Crimeia ao sul.
Não está claro ainda o que foi atingido. Segundo a polícia ucraniana, um ataque a uma unidade militar em Podilsk (próximo a Odessa, no sudoeste ucraniano) deixou seis mortos e outros sete feridos. Há 19 pessoas desaparecidas. Uma pessoa também morreu em Mariupol (no leste ucraniano), segundo as autoridades.
Em pronunciamento em vídeo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, decretou lei marcial em todo o país, instaurando um regime de guerra e substituindo a legislação vigente até em então. Grande parte dos reservistas foi convocada.
“Sem pânico. Nós somos fortes. Estamos prontos para qualquer coisa. Nós vamos derrotar qualquer um porque nós somos a Ucrânia”, disse Zelensky. Ele afirmou ainda que a Rússia fez bombardeios em infraestruturas militares e unidades de segurança na fronteira.
Autoridades militares da Ucrânia disseram ainda que quarteis militares, pistas de pouso e armazéns em Dnipro e Kharkiv e na capital Kiev, cidade de 3 milhões de habitantes onde foram ouvidas sirenes de alerta. Há diversas imagens de cidadãos procurando abrigo ou fugindo da capital de carro e transporte público. Há filas em caixas eletrônicos e os voos civis foram completamente suspensos.
A embaixada brasileira na Ucrânia orientou os brasileiros que vivem no país a seguir as instruções das autoridades locais e acompanhar as notícias. Em Kiev, a recomendação para o momento é de se ficar em casa, exceto se houver ativação de sirenes de emergência para procurar abrigos. Em outras regiões, “a embaixada recomenda que brasileiros que possa deslocar-se por meios próprios para outros países ao oeste da Ucrânia que o façam tão logo possível, após informarem-se sobre a situação de segurança local”. No caso dos brasileiros na região leste, à marquem esquerda do rio Dnipro, quem não conseguir se deslocar para a fronteira oeste deve entrar em contato com o corpo diplomático no país (+380 50 384 5484).
“Aos brasileiros que não puderem deixar o país de modo seguro, a embaixada orienta a procurar um local seguro para o momento, longe de bases militares, instalações responsáveis pelo fornecimento de energia e internet e áreas responsáveis pela produção de energia elétrica.”
Além dos relatos de explosões em diversas cidades ucranianas, há registros também de disparos nas proximidades do aeroporto de Boryspil, em Kiev.
Em uma última tentativa de evitar o confronto com a Rússia, antes do pronunciamento de Putin, Zelensky alertou que o país vizinho poderia dar início a uma “ampla guerra na Europa” e exortou os cidadãos russos a se oporem à invasão militar da Ucrânia.
Estima-se que a Rússia tenha mobilizado 200 mil combatentes e milhares de veículos de combate ao redor da Ucrânia. Não está claro quantos entraram no país, por onde e com que destino.
Aliados da Ucrânia no Ocidente, como Estados Unidos e Reino Unido, fizeram diversos alertas de que a Rússia estava prestes a invadir a Ucrânia. Mas Putin e outras autoridades russas negaram diversas vezes que isso ocorreria.
O anúncio de Putin aconteceu no mesmo momento em que ocorria uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) em Nova York, Estados Unidos, sobre a crise.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou pedindo “do fundo do coração”: “Presidente Putin, detenha suas tropas de atacar a Ucrânia”.
Em resposta à operação militar russa, o presidente americano, Joe Biden, afirmou que os EUA e seus aliados iriam de forma unida e decisiva responder ao “ataque injustificado e não provocado das forças militares da Rússia” na Ucrânia.
“O presidente Putin escolheu uma guerra premeditada que acarretará em catastróficas perdas de vida e em sofrimento humano”, afirmou Biden. “O mundo fará a Rússia responder por isso.”
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar “chocado pelos eventos assustadores na Ucrânia” e que o presidente Putin “escolheu um caminho de sangue e destruição ao lançar um ataque não provocado”. Ele acrescentou ter falado com o colega ucraniano, Zelensky, sobre como responder, prometendo ações decisivas do Reino Unido e de outros aliados.
Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia, afirmou que os países europeus estão preparando uma série de sanções contra a Rússia. “Com este pacote, visaremos setores estratégicos da economia russa bloqueando seu acesso a tecnologias e mercados-chave. Vamos enfraquecer a base econômica da Rússia e sua capacidade de modernização. (…) Além disso, congelaremos os ativos russos na União Europeia e impediremos o acesso de bancos russos ao mercado financeiro europeu. Assim como no primeiro pacote de sanções, estamos alinhados com parceiros e aliados. prejudicam os interesses do Kremlin e sua capacidade de financiar a guerra.”
Rússia vem reforçando sua defesa, reduzindo a dependência do dólar e tentando tornar sua economia à prova de sanções.
Otan e apoio da Rússia a regiões separatistas
A operação militar da Rússia teve início poucos dias depois que o país reconheceu as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia.
Após esse anúncio, os separatistas, que controlam vastas áreas na região de Donbas, pediram apoio militar de Moscou.
Em seu anúncio sobre a operação militar iniciada na Ucrânia nesta quinta (24/2), Putin afirmou que o objetivo da medida é defender um povo submetido a oito anos de “genocídio pelo regime de Kiev”.
A declaração parece fazer referência ao período iniciado com os protestos em massa na Ucrânia que derrubaram o presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, em 2014.
Segundo Putin, a operação na Ucrânia visa “a desmilitarização e a desnazificação” da Ucrânia.
Por repetidas vezes, Kiev e seus aliados no Ocidente refutaram como “absurdas” as declarações de Putin de que a Ucrânia estava sendo comandada por neonazistas. E que a Ucrânia, diferentemente do avanço autoritário na Rússia, era uma nação com avanços em instituições democráticas.
Os temores de ataque começaram a meses.
Putin acusou diversas vezes os EUA e seus aliados de ignorarem as demandas da Rússia de evitar que a Ucrânia se juntasse à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de oferecer garantias de segurança a Moscou.
Na quarta-feira (23/2), o estado de emergência na Ucrânia foi amplamente aprovado pelo Legislativo. A medida introduziu, por exemplo, abordagens de cidadãos para checagem de documentos pessoais e restrições nas comunicações no sistema de rádio.
A Ucrânia também ordenou que milhões de seus cidadãos vivendo na Rússia voltassem para seu país, além da restrição do espaço aéreo ucraniano para voos civis devido ao “risco potencial”.
Além disso, o prefeito de Kiev anunciou também pontos de controle ao redor da cidade, além de limitações ao acesso a prédios públicos.
A seguir, veja as 3 principais rotas que Rússia tem para invasão da Ucrânia