O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, afirmou nesta terça-feira (9) que desconhece irregularidades na entidade e descartou a renúncia ao cargo. Ele participou, por cerca de cinco horas, de audiência pública da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados.
A audiência debateu denúncias de corrupção apuradas pela Justiça dos Estados Unidos e que levaram à prisão de dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e do ex-presidente da CBF José Maria Marin. O esquema de propina envolveria dirigentes esportivos e executivos na comercialização de jogos e na organização de competições importantes, inclusive copas do mundo.
No caso da CBF, haveria irregularidades nos contratos de marketing da Copa do Brasil. Del Nero voltou a afirmar que os contratos investigados foram assinados antes de sua gestão, quando ainda era um dos vice-presidentes da CBF e apenas opinava quando era chamado.
O atual presidente da CBF admitiu que as denúncias são graves e disse que já enviou todos os contratos para análise do Ministério da Justiça e do Ministério Público Federal. Ele garantiu que não está sendo investigado pela Justiça norte-americana.
Del Nero referiu-se a Marin como “velho companheiro” e pediu que ninguém seja prejulgado. “Nenhuma notícia eu tinha nem sabia de qualquer fato desabonador do ex-presidente Marin. Não compartilho e não sabia disso. Eu considerava o Marin um irmão, mas não posso responder pelos seus atos. Eu respondo pelos meus atos.”
Divisão entre deputados
Ao longo da audiência, os deputados se dividiram entre os que elogiaram o presidente da CBF por atender ao convite para depor na Câmara e aqueles que pediram sua renúncia devido à ligação com os ex-presidentes Marin e Ricardo Teixeira, que acumulam denúncias.
Alguns parlamentares lembraram que a investigação dos Estados Unidos se refere a um “coconspirador 12”, que seria um alto dirigente da CBF que estaria envolvido nas irregularidades da Copa do Brasil.
O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) foi um dos parlamentares a sugerir a renúncia de Del Nero. “Diante desse escândalo mundial de corrupção, no qual José Maria Marin, de quem o senhor era o homem forte, está preso, o senhor não acha que este é o momento de renunciar para a CBF virar a página?”, questionou.
Del Nero assumiu a presidência da CBF há quase dois meses e garantiu que ficará até o fim de seu mandato. “Renuncia quem tem alguma coisa errada na vida. Eu não renuncio. Vou até o fim do meu mandato, vou cumprir minha obrigação. Às vezes, dá vontade de ir embora porque é tanta coisa que a gente passa. Mas eu vou ficar lá até meu último dia de mandato.”
Medidas de modernização
Marco Polo Del Nero se disse “surpreso” com a renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, e anunciou uma série de medidas para, segundo ele, garantir “avanços e modernidade” para o que chama de “nova CBF”.
Algumas delas mudam o estatuto da entidade e dependem de aprovação na assembleia geral da entidade, marcada para quinta-feira (11), como é o caso do mandato de quatro anos para dirigentes esportivos, permitida apenas uma reeleição.
As medidas citadas por Del Nero também incluem um novo modelo de governança, um código de conduta ética com foco na prevenção de fraude e corrupção, um novo sistema de registro de transferência de atletas e o recadastramento de atletas não profissionais.
Na defesa da renúncia de Del Nero, o deputado João Derly (PCdoB-RS) argumentou que o gesto seria importante para não afetar a seleção brasileira e para contribuir com a democratização do futebol.
Dívidas dos clubes
O relator da Medida Provisória 671/15 (MP do Futebol), deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), tentou cobrar de Del Nero o compromisso da CBF com alguns pontos da medida, que trata do refinanciamento das dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes de futebol.
Segundo Leite, algumas regras já poderiam constar nos regulamentos das competições, como a apresentação prévia de certidão negativa de débitos para os clubes participarem de torneios; a ampliação do colégio eleitoral para a definição dos dirigentes esportivos; e a prevenção a contratos de jogadores com valores exorbitantes, acima da capacidade financeira dos clubes.
Para o deputado, “o futebol está doente e em atoleiro financeiro” e a MP 671 oferece uma oportunidade de renegociação das dívidas, com contrapartidas que garantem gestões mais transparentes e democráticas.
Del Nero argumentou que muitas decisões cabem mais aos clubes do que à CBF. Para o dirigente, o ponto alto da MP é a previsão de perda de pontos e até rebaixamento de divisão para o clube inadimplente.