Investidores monitoram política monetária enquanto cenário externo adiciona pressão às bolsas
O Ibovespa encerrou o pregão de ontem em queda de 0,7%, aos 125.147 pontos, refletindo a cautela dos investidores diante da ata do Copom. O Banco Central reforçou uma postura mais dura na condução da política monetária, destacando os desafios para conter a inflação e devolver o IPCA à meta. Com isso, o mercado de renda variável perdeu fôlego, enquanto o dólar seguiu em queda, encerrando o dia cotado a R$ 5,76 (-0,9%).
A volatilidade também impactou o desempenho das empresas listadas na bolsa. O destaque positivo ficou com a Braskem (BRKM5, +3,9%), beneficiada por uma avaliação da Fitch que indicou impacto limitado no perfil de crédito da empresa após o aumento de R$ 1,3 bilhão nas provisões para lidar com o desastre ambiental em Alagoas. Em contrapartida, exportadoras como Suzano, JBS e Klabin amargaram fortes quedas, pressionadas pela desvalorização do dólar frente ao real.
Juros e expectativas para a Selic
No mercado de renda fixa, as taxas futuras de juros apresentaram fechamento nos vencimentos intermediários e longos, reagindo à ata do Copom e ao Plano Anual de Financiamento (PAF) do Tesouro Nacional. O documento sinalizou menor emissão de títulos prefixados, elevando a incerteza quanto ao comportamento da curva de juros. Os contratos de DI para janeiro de 2026 encerraram em 14,92%, enquanto os de janeiro de 2031 fecharam a 14,41%.
O Copom reforçou um cenário desafiador para a inflação e alertou para a possibilidade de extensão do ciclo de alta da Selic. O mercado já precifica um aumento da taxa básica para 15,50% até junho, caso o cenário inflacionário não apresente melhora.
Cenário externo: Tensões comerciais e mercado de trabalho nos EUA
Nos Estados Unidos, o mercado monitora os desdobramentos das tarifas impostas por Trump e os dados econômicos que podem influenciar as próximas decisões do Federal Reserve. O relatório Jolts mostrou a criação de 7,6 milhões de empregos, indicando um mercado de trabalho ainda aquecido e reduzindo as apostas de cortes agressivos nos juros pelo Fed.
Os índices futuros de Wall Street abriram em queda nesta quarta-feira, refletindo o impacto negativo da Alphabet (controladora do Google), que decepcionou o mercado com um crescimento abaixo do esperado na receita de computação em nuvem. O S&P 500 recua 0,6%, enquanto o Nasdaq 100 cai 0,9%.
Na Europa, as bolsas operam de forma estável, mas seguem pressionadas pelas ameaças tarifárias de Trump contra a União Europeia. Na China, os índices fecharam no vermelho, refletindo incertezas sobre as tensões comerciais e a recuperação econômica do país.
Setor Imobiliário: Fundos de Tijolo em alta, mas IFIX segue estável
O índice de fundos imobiliários (IFIX) teve leve recuo de 0,05%, com FIIs de papel apresentando desempenho negativo médio de -0,37%, enquanto FIIs de tijolo avançaram 0,35% no dia. Os destaques positivos foram GZIT11 (+7,0%) e HCTR11 (+3,5%), enquanto HSAF11 (-3,9%) e MFII11 (-3,0%) figuraram entre as maiores quedas.
Próximos desafios: Dados Econômicos e temporada de resultados
Os investidores seguem atentos à divulgação da produção industrial de dezembro no Brasil, com projeções indicando a terceira queda mensal consecutiva. No exterior, a atenção se volta para o relatório de emprego ADP e a sondagem de serviços ISM nos EUA, além da temporada de balanços, com destaque para Itaú, Santander, Disney, Ford, Novo Nordisk, TotalEnergies e Uber.
Com um cenário interno desafiador e incertezas externas crescentes, o mercado brasileiro deve manter alta volatilidade nos próximos dias. A postura do Banco Central e os desdobramentos da política econômica nos EUA continuarão ditando o rumo dos ativos.
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