Para o juiz, o anúncio publicado em veículos de comunicação pela empreiteira, em que reitera a sua indignação com a prisão de executivos, mostrou que a Odebrecht não quer reconhecer sua responsabilidade pelos fatos
O juiz federal Sérgio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava Jato, criticou a Odebrecht por ter publicado anúncio em veículos de comunicação em que expressa sua “indignação” com a prisão dos executivos da empreiteira. Ele afirmou que o texto “reforça a convicção deste juízo acerca da necessidade, infelizmente, da prisão preventiva”. As informações são do site ConJur.
Para ele, dessa maneira a empreiteira mostrou que não tem intenção de reconhecer sua responsabilidade pelos fatos, “o que seria um passo necessário para afastar o risco de reiteração das práticas criminosas”, que poderia ser superado com mudanças nas práticas empresariais do grupo.
“É certo que a empresa tem o direito de se defender, mas fazendo-o seria recomendável que apresentasse os fatos por inteiro e não da maneira parcial efetuada, em aparente tentativa de confundir, valendo-se de seus amplos recursos financeiros, a opinião pública e colocá-la contra a ação das instituições públicas, inclusive da Justiça”, escreveu Moro em despacho desta quarta-feira (24).
Na decisão, ele determinou a prisão preventiva de Alexandrino de Salles Alencar, já detido em caráter temporário. Alencar foi apontado como operador da Braskem, petroquímica controlada pela Odebrecht, empresa de qual acaba de se desligar. “Formular o pedido de demissão após a prisão temporária é um mero estratagema para evitar a preventiva”, comentou Moro.
“Não reputo o mero afastamento do cargo medida suficiente para prevenir os riscos que a preventiva busca evitar, pois parte dos executivos é também acionista e, mesmo para aqueles que não são, é na prática impossível, mesmo com o afastamento formal, controlar a aplicação prática da medida”, avaliou o juiz.
De acordo com o juiz, a única alternativa seria suspender todos os contratos públicos da Odebrecht e proibir novas contratações com o Poder Público, “hipótese atualmente não cogitável considerando os danos colaterais a terceiros”.
Para a empreiteira, as prisões de seus executivos, incluindo seu presidente, Marcelo Odebrecht, e o cumprimento de mandados de busca e apreensão em sedes da companhia foram ilegais, pois “a Polícia Federal não apresentou, como alegado na decisão judicial, qualquer fato novo que justificasse as medidas de força cumpridas”.